7 de junho de 2013

Uma Semana de Reflexão


* Este foi o pin que me acompanhou durante todo o Caminho em busca de Santiago. Uma soca aberta representativa do Minho, usada nas danças de grupos folclóricos. Durante todo o meu Caminho encontrei-me com imensos peregrinos estrangeiros, vindos da Noruega, Inglaterra, Suíça, Suécia, Alemanha, Holanda, Coreia do Norte e África do Sul, tendo apenas encontrado um português em todo o meu percurso, na chegada a Padrón.

Falávamos sobre de onde vínhamos, para onde iriamos naquele dia, qual o motivo pela qual estávamos a fazer o Caminho de Santiago... Jantei com vários deles e a paródia montava-se nos restaurantes, albergues e durante o Caminho. Esses são realmente os momentos em que me senti mais feliz e cheio de força, o convívio com as pessoas, a socialização, os bons momentos passados com eles, andávamos todos tão mancos que, segundo eles, a forma de andarmos era, nada mais do que  "the dance of the pilgrims" - a dança dos peregrinos, isto junto com a nossa boa disposição.

Resumindo todo o Caminho de Santiago, os dias são feitos a caminhar por entre carvalhos, flores, riachos, fontes e capelas, só se ouve o barulho das árvores a abanar e os pássaros a chilrear. Muitos são os momentos de reflexão, vivenciam-se sentimentos de alegria, tristeza, saudade, "loucura" e momentos únicos, como chegar à cruz do peregrino no meio da Serra da Labruja e observar a Catedral de Santiago por entre os prédios pela primeira vez, independentemente do sentimento, passei dias a chorar.

De entre todo o material e utensílios para a viagem que levava às costas, levava comigo também um pequeno terço, que me acompanhou durante toda a viagem até Santiago. Parei e rezei em várias capelinhas que encontrava no Caminho, com ele sempre no meu punho. Durante a minha caminhada passei por várias provações que não estava à espera, a principal, as dores que se iam acumulando de dia para dia, sempre em locais completamente distintos, e que muitas das vezes me impossibilitavam de continuar. À saída de Briallos/Portas fui quase como atacado por dois cães e, na minha forma de defesa, bati com o pé no chão, afastando os cães mas também ficando com o tornozelo numa lástima, todo edemaciado. Foi aí que coloquei o terço que levava ao punho na minha mochila, junto às pedras que ia apanhando durante o percurso, para deixar na Catedral. Quase como uma forma de revolta para com Deus, não voltei a pegar nele, nem a rezar uma única vez nesse dia, até que cheguei a Padrón. Na minha chegada a Padrón, instintivamente, entrei dentro de uma grande igreja e agradeci a Deus 
ter-me possibilitado chegar ali, a Padrón e a 20km do final do meu percurso.

No dia seguinte e na "recta" final do meu Caminho senti uma lufada de felicidade, choro, satisfação, porque percebi o sentido de tudo aquilo que tinha feito e vivenciado até ali, o sentido do Caminho de Santiago para mim. Agora, não sentia uma única dor, voltando a colocar o terço no meu punho. Afinal de contas, estava a fazer aquele Caminho por quem?? O que é que elas sentem no seu "Caminho de Vida"?? Quais as dificuldades pela qual são constantemente postas à prova?? Eu estava lá por essa razão e finalmente percebi isso, no último dia, quando não havia uma única dor que me impossibilitasse de andar.

Para mim este não foi um "Caminho de Vida", foi apenas o Caminho de Santiago, bonito e doloroso, mas que me fez compreender muita coisa na minha vida. Não fui "encontrar-me" a mim mesmo, não fui pelas paisagens fantásticas do Caminho, fui por elas, por essas pessoas que percorrem um "Caminho" muito mais difícil que o meu, e isso foi o que me deixou verdadeiramente feliz.  


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